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Na Islândia encontrou-se a plenitude

Amanhece.

O sol fraco alegra o dia e esquenta a neve, que não parece se importar.

Eles não se agridem, como sugere o óbvio. E eles muito mais que coexistem. Exibem-se.

Exibem-se num dueto, assim como se exibem os onipresentes pássaros e o incessante vento forte. As montanhas geladas e o mar. Os campos negros de lava e as pequenas Dryas de oito pétalas.

É assim que é: para onde a vista alcança, formam-se os pares.

Nesse canto remoto, óbvio é somente o improvável.

Mas na Islândia, apesar de o selvagem sequestrar todos os sentidos, o dueto mais inesperado é de outra natureza e impossível não ser notado: os islandeses e sua exuberante felicidade. Todas as frequentes publicações sobre índices de felicidade mundial colocam os islandeses nas primeiras posições da lista, e isso com certeza é verdadeiro. Apesar de seu meio ambiente hostil e invernos longos, esse povo catalisa uma energia deliciosa, capaz de te fazer sentir em casa, mesmo tão longe.

E como explicar tal fato? Será por serem poucos, algo em torno de 320 mil habitantes e não muito além de três para cada quilômetro quadrado? Será pela sua forte identidade cultural, que os fazem olhar o próximo sempre como a um irmão e não oponente? Será pela resiliência, adquirida ao longo das sofridas gerações, forçadas a se adaptar à um espaço onde o homem não parece pertencer?

Provavelmente todo esse conjunto.

Sair seguro pela porta da frente, sentir o ar puro, sorrir ao que passa. Viver a vida sem a angústia de precisar e precisar de muito – virtude de quem aprendeu a beleza das coisas simples. Olhar e ver. Escutar e ouvir. Sentir das horas os segundos.

Na Islândia alcançou-se a plenitude.

Anoitece.

A aurora boreal vem chegando a acalantar o sono de quem respeitou a natureza, o próximo e a si mesmo.

Na Islândia alcançou-se a plenitude.

Nesse canto remoto, óbvio é somente o improvável.

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Esse artigo foi escrito para e a convite da 22ª edição da revista A Alagarta, com o tema Plenitude.

1 Comment

  1. Como planejar uma roadtrip pela Islândia - Aondes

    21 de julho de 2019 at 10:52

    […] Nossa passagem por lá rendeu um convite para escrever um artigo à uma revista, com o tema plenitude. Você pode conferir ele aqui: Na Islândia encontrou-se a plenitude. […]

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